por Claudia Gelernter - claudiagelernter@uol.com.br
Tenho algumas amigas que vez ou outra reclamam do fato de terem abdicado de suas profissões para cuidarem da família.
Sentem-se diminuídas, como se o trabalho no lar não tivesse valor.
Quais seriam os reais motivos que levaram a mulher a sentir esta grande necessidade de estar, ao lado dos homens, no mercado de trabalho?
Todo fato é social, portanto, deve ser explicado pela história das relações humanas.
O homem - ser masculino que desempenha o importante papel de companheiro e pai, na atualidade - transformou as mulheres de sua vida, por muito tempo, em servas desprezadas.
Na maior parte das culturas mantinham-nas amordaçadas, sem voz e sem ação. Mas elas nunca deixaram de pensar. Mesmo quando se calavam diante de seu “senhor marido”, por dentro o espírito divagava entre a resignação e a revolta.
Triste realidade que, infelizmente, ainda perdura em algumas culturas.
Algumas movimentações foram surgindo, com o passar dos tempos, e a mulher manifestou-se com força e resolução. Então os homens ficaram assustados: como lidar com aquele ser que pensava, lutava e, pior, realizava? Como administrar essa nova realidade e aceitar que a mulher, aquela que era apontada como o “sexo frágil” e de poucas possibilidades, poderia ser tão eficaz quanto eles num mundo intrinsecamente masculino?
Junto com o despreparo masculino no trato de tais questões, outra grande dificuldade neste novo processo esteve no fato de irmos de um extremo ao outro, como em todas as movimentações humanas. Passamos do servilismo total para a guerra aberta contra os homens, armando um verdadeiro braço-de-ferro com eles, desejando provar que éramos ainda melhores do que aquele que nos subjugou por tanto tempo. Desejávamos provar ao mundo que éramos cheias de virtudes e que conseguíamos ser muito mais do que estávamos sendo até ali.
Com isso abraçamos inúmeras atividades - não nos contentamos em apenas angariar conhecimento, precisávamos exercitá-los, ganhar dinheiro, ter “liberdade”.
Curiosamente nos escravizamos por conta própria.
Ao deixarmos os nossos lares para serem cuidados por empregadas e nossos filhos pelas babás, pagamos um alto preço: perdemos a paz de espírito.
Como trabalhar tranqüilas, sabendo que aqueles que dependem de nós ficaram em casa, com febre, nas mãos de outra pessoa que nem sempre conhecemos bem, ou ainda em creches, sendo educadas por meninas por vezes inexperientes, com pouca idade e sem nenhuma formação na área educacional? Como administrar os complexos mecanismos da casa que necessita de organização, cuidados e carinho e a vida profissional, cheia de exigências e desafios? Como conseguir participar da elaboração do caráter das crianças em tenra idade e ainda contribuir com a promoção do crescimento da empresa onde laboramos?
Coisa difícil.
Não é à toa que a mulher moderna desenvolveu uma forte tendência à depressão.
Uma voz interior lhe pede para que dê conta do lar, de sua família e a outra voz, social e manipuladora, grita, pedindo que seja uma vencedora nas lides materiais, mesmo que para sobreviver com conforto e segurança não precise de mais dinheiro do que já tem.
Então nos perguntamos: “Será que toda esta luta feminina tem sido heróica, porém, inglória?”
A mulher precisou desse movimento que trouxe grandes mudanças, tanto para estabelecer seus próprios limites como para descobrir seus reais potenciais, camuflados pelo sistema.
Porém, agora ela precisa pesar na balança se está sendo realmente saudável, para ela e para sua família, optar por tantas funções em um mesmo momento.
Compreendo que a realidade do mundo moderno nem sempre nos permite pagar as nossas contas com apenas um membro familiar trazendo dinheiro para dentro de casa e que com isso a mulher precisou sair pela porta da frente, buscando complementar o orçamento doméstico. Também considero o fato de que muitas famílias, já constituídas por pai, mãe e filhos, de uma hora para outra passam por necessidades e precisam da mão-de-obra feminina, a fim de lhes permitir a sobrevivência. Neste caso o marido precisará realizar um esforço inaudito no sentido de auxiliar esta mulher e criar, juntamente com ela, mecanismos de qualidade para o convívio familiar, ajudando-a na manutenção daquele espaço, colaborando na educação dos filhos, promovendo importantes momentos de harmonia e participação.
Não pode deixar que a mulher fique sozinha com todos os encargos da casa, sobrecarregada, fatigada, chegando até mesmo a adoecer – como temos constatado.
No caso da mulher que, mesmo sem precisar ajudar no sustento, sente uma necessidade grande de realizar-se dentro do mercado de trabalho, não há problema algum que lute por seus objetivos pessoais. Contudo precisará indagar-se sobre a possibilidade de não ter filhos, uma vez que será complicado dar conta do recado sem se prejudicar e, principalmente, sem prejudicar aqueles que precisarão de sua assistência constante.
São perguntas duras que precisam ser elaboradas, pois todos temos pago um alto tributo, na atualidade.
As mulheres-maravilha que teimam em afirmar que conseguem estar em várias funções ao mesmo tempo, como se fossem seres clonados pela ciência moderna, precisam descobrir em qual ponta a corda está estourando.
Ao aceitarmos o que a sociedade nos impõe como sendo o melhor, partimos do pressuposto de que o trabalho profissional é mais importante que o caseiro, sendo isso uma grande inverdade.
Todas as atividades que envolvem a família são sagradas - merecedoras de respeito e consideração - pois dão base para as almas que ali se desenvolvem.
Para que o leitor possa compreender melhor as intenções contidas neste despretensioso texto - cujo objetivo não é o de trazer conclusões, mas sim algumas reflexões - copio, abaixo, parte de uma entrevista feita com o saudoso médium brasileiro, Francisco Candido Xavier, pelos confrades Salvador Gentile e Hércio Marcos Cintra Arantes.
P: Poderíamos saber, através de você, de algum modo, a causa profunda dos conflitos da nossa época?
Chico Xavier: Emmanuel costuma dizer que a era tecnológica pretende, na essência, construir uma civilização sem as mães e isso é um erro muito grande, de modo que, criando dificuldades para a mulher e, especialmente, para a maternidade, estamos condenando a nós mesmos a muitas perturbações, porque a mulher sem apoio entra, naturalmente, em desespero, dando origem a determinadas teorias que não são aquelas do feminismo autêntico, aquele feminismo correto que prepara a mulher para a independência construtiva.
Dizendo isso, cremos que será justo esquecer as teorias enfermas que levam a mulher às ilusões destrutivas, com as quais se compromete o equilíbrio do grupo social. Precisamos realmente não reprovar o comportamento da mulher, e sim estudar por que meios conseguiremos auxiliar as nossas irmãs de humanidade, para que se sintam conscientizadas na responsabilidade de serem mulheres com encargos muito mais importantes do que os encargos atribuídos ao homem, porque o homem é a administração e a mulher é o lar, e sem o lar não sustentamos a cúpula com a segurança desejada.
Fonte: A Terra e o Semeador, publicação do Instituto de Difusão Espírita (IDE) - publicado em 1975.
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