quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pão e Circo







"Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova."
Mahatma Gandhi


Minha filha treina Kung Fu três vezes por semana.

A cada semestre, o grupo da academia onde ela exercita a arte chinesa faz apresentações ao público, geralmente em festas regionais ou mesmo na própria academia, a fim de divulgar o espaço e parte da cultura daquele país. Nestes eventos a rapaziada desenvolve exercícios de tai-chi-chuan, wu shu, kati do leque, simulações de luta, entre outros.Semana passada foi a vez de mostrarem suas habilidades em uma festa municipal, na cidade de Valinhos - a Festa do Figo.


Fomos eu, meu marido, meu outro filho e o namorado dela.

anoitecer estava relativamente frio para a época do ano e no parque onde estava acontecendo a festa as pessoas se acumulavam nas filas dos brinquedos em um grande parque de diversões montado próximo ao ginásio, ora olhando admiradas para os movimentos dos carrinhos nos trilhos - estrategicamente colocados em situação que simulava perigo - ora trocando olhares ansiosos ao meio da massa humana.

Fomos perguntando às pessoas e logo já estávamos sentados na grande arquibancada do ginásio, onde o pequeno grupo se apresentaria, com suas roupas tradicionais e sorriso nervoso.Logo após a apresentação inicial, o grupo da minha filha entrou na quadra.

Cada pessoa levava um bonito leque chinês nas mãos, dançando com graça, demonstrando o kati que foi desenvolvido numa movimentação harmoniosa e sincronizada. Fiquei emocionada ao ver minha menina realizando aqueles passos com tanta leveza. Terminaram a apresentação e eu aplaudia, feliz da vida...


As outras pessoas no ginásio pareceram gostar, mas sem tanto entusiasmo...

Em seguida surgiram alguns rapazes, com roupas vermelhas brilhantes que iniciaram uma apresentação bruta, com golpes e chutes, munidos de espadas, nuntchacos e bastões.

Logo percebi que se tratava de uma simulação muito bem feita de luta.

Atacavam-se, gritavam, caiam, pulavam, com movimentos bruscos e ferozes.

Ao final da apresentação, dois deles simularam enfiar espadas, cada um no corpo do outro, caindo, como que mortos , um para cada lado.

Qual não foi o meu espanto ao ver o publico ir ao delírio!

As pessoas aplaudiam eufóricas a apresentação dos rapazes que lutaram feito feras.

Imediatamente virei o rosto na direção de meu marido e comentei: “É o povo que, no final das contas, dois mil anos depois, ainda se compraz com pão e circo...”


A política do pão e circo tem suas raízes na Roma antiga, quando os Imperadores costumavam coibir revoltas populares ofertando comida e lutas sangrentas nos circos. Com isso o povo, quase dizimado pela fome nos campos e que invadia a cidade em busca de alimentos, festejava e esquecia suas dores.

Devemos culpar os Césares pelas linhas escritas pelos historiadores?

Seriam eles os grandes responsáveis pela alienação do povo?

Certamente os imperadores da antiguidade semeavam nos corações incautos os germens da ignorância e, por conseqüência, do erro. Entretanto, num pequeno laboratório interiorano, onde algumas centenas de pessoas reuniam-se para assistir ao espetáculo, pudemos observar que em matéria de gostos e tendências, muitos ainda se acomodam nos limites da barbárie, apesar dos tantos séculos já idos.

Luta, música barulhenta e urros animalescos mantinham os olhos daquelas pessoas na arquibancada vidrados e em êxtase.

Não é por outro motivo que as telenovelas e os telejornais sangrentos e viciosos fazem tanto sucesso. Também não é com outro objetivo que políticos e empresários mal intencionados continuam a usar a política do pão e circo... O povo quer. O povo pede. O povo aceita.


Quem já leu a magnífica obra “Um Pilar de Ferro” de Taylor Caldwell pôde perceber como a autora faz a ligação entre as atividades romanas na antiguidade e nosso modo de viver, na atualidade. ]


Pobre do povo que não estuda a própria história com a intenção de mudar seus passos.

Repete incessantemente os mesmos erros, colhendo os mesmos frutos da árvore de sua ignorância, perdendo seus dias entre lamentações e impropérios, pensando que nada pode fazer e que a culpa é apenas do governo.


Oxalá um dia surja para a humanidade outra perspectiva, onde políticos honrados se preocupem com a educação e o bem estar de seu povo e onde este povo, honrado e esclarecido, tenha sabedoria suficiente para eleger tais políticos.



Para maiores esclarecimentos sugiro o endereço:

http://somostodosum.ig.com.br/blog/blog.asp?id=8514

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