Semana passada tive contato com uma pessoa querida que me disse ter "perdido o sentido da vida" por conta da morte do marido.
Comentou que ele era tudo para ela e que agora só restavam lágrimas e desespero.
Faz quatro anos que seu companheiro partiu.
Histórias como esta me chegam com certa frequência. Não é incomum acolher este tipo de fala, entre pessoas que vivenciaram a morte em seus lares.
Entretanto, com todo o respeito para com o sofrimento destas almas, me vejo no dever de apontar para um equívoco existencial, surgido da forma como alguns se vinculam no mundo, de como se relacionam com as figuras significativas (mãe, pai, marido, esposa, amigos, etc.).
Quando alguém afirma que o sentido da vida se perdeu por conta da morte de alguém, entendemos que toda a existência da pessoa que ficou estava fundamentada em um outro Ser. Ou seja, todas as fichas, esperanças e expectativas estavam fora de si mesmo.
Eis o perigo.
Nada do que está fora de nós é certeza de segurança. Isso porque o que é do mundo se altera, constantemente. Não há imutabilidade. Crer que só somos felizes porque o outro está conosco é apostar tudo o que se tem em um bilhete de loteria. Dificilmente conseguiremos viver em paz, afinal, o outro tem sua própria história, que seguirá seu curso, queiramos ou não... adoeçamos ou não.
Olhar para estes pontos facilita a construção de nossas ferramentas internas, capazes de nos ajudar a seguirmos adiante, apesar de tudo. Com ou sem aqueles que amamos.
Sim, eu sei...não é fácil. No começo a vida parece perder seu brilho. Isso é natural. Faz parte do luto. Porém, precisaremos continuar. Vamos elaborar esta perda e passaremos a reinvestir nosso amor no mundo.
Muito mais difícil tal elaboração quando não tivemos o imprescindível cuidado de cuidarmos de nós, de nossos sentimentos, de nossos objetivos existenciais. Quando não buscamos descobrir porque estamos aqui.
Perguntas como: "Quais são meus talentos?" "Como posso usá-los nesta vida?" "O que eu realizo para mim que me traz boas emoções/sensações?" "O que quero para meu futuro?" são fundamentais. E não devemos colocar o nome de familiares ou de outras pessoas nas respostas. Precisamos encontrar motivos e dons nossos, por nós e de nós para o mundo.
Por exemplo, quando me perguntam por que eu não gostaria de morrer hoje, respondo com um sorriso: "Não quero acompanhar a dona Morte, porque preciso terminar meu livro, quero visitar a Índia, o Tibet e o Nepal, além de terminar minha formação em Yoga, em Sistêmica e em Constelações. Ah! Também quero aprender muito mais sobre neurociência. Isso me ajuda muito. Ou seja - ela que me deixe por aqui mais uns 5 anos, pelo menos! Claro que falamos em tom de brincadeira, mas tudo isso é a pura verdade no que diz respeito ao que ainda pretendo realizar por mim e para o mundo. Eis o sentido da vida, por agora. Embora eu ame profundamente meu marido e filhos quero continuar aqui na Terra por diversos motivos importantes, porém não necessariamente ligados a eles. Amor não implica em dependência emocional. Ao contrário. Lógico que gostaria de estar ao lado deles em muitos momentos especiais, porém a estrada será trilhada por meus pés, são conhecimentos e vivências inalienáveis, dependem de mim, do meu esforço, desejo e dedicação.
Não devemos condicionar nossa felicidade, acreditando ser ela fruto do que as pessoas fazem por nós.
Felicidade verdadeira só existe quando conseguimos, apesar das dores do mundo, encontrar em nós mesmos o sentido para seguirmos adiante, na trilha da vida.
Claudia Gelernter
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