segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Comunicação Para Comunicar (e Solucionar).


11781716_484975484996076_3392261637842961550_nExiste uma ênfase no mundo empresarial para as questões da comunicação. Isso se justifica, uma vez que os grandes administradores já se atentaram para a prioridade na gestão de pessoas e métodos para uma comunicação eficiente, visando a maior lucratividade.
Chefes, subordinados e afins precisam se comunicar bem, calmamente, objetivamente, sem infantilizações ou ataques de cólera, afinal não existe quem queira perder o emprego ou o possível lucro por causa de uma frase mal formada ou mal falada. Ademais, a “máquina” precisa funcionar com eficiência, sob risco de se enfraquecer diante das crises que, vez ou outra, aparecem por aí. Cliente sempre tem razão e a organização precisará caminhar saudável, forte e plena, sem brigas internas, nem cisões alarmantes.
Mas, tanto aqui como em outros pontos cruciais da sociedade, o que vemos não é uma alteração de comportamento nas questões da comunicação, surgida por conta de uma mudança emocional, mas apenas adaptativa, circunstancial, por interesse material. “Sou polido onde preciso ser, já em casa, posso ser quem sou”, dizem alguns.
O problema nesta forma de pensar é que a infelicidade chega a galope. Não conheci nenhuma pessoa realmente feliz porque conseguiu manter o emprego sem dar conta de instituir relações saudáveis em casa.
Aliás, sob o ponto de vista familiar, raramente encontro aqueles que se comunicam com eficiência e maturidade, e os resultados são negativos, quando não, caóticos.
Tenho visto maridos entrando na caverna, acuados, enquanto esposas falam e choram suas mágoas para as paredes. Filhos usando a internet como cordas vocais, mas em silêncio absoluto na mesa da sala de jantar, como estranhos que, “por uma coincidência” necessitam dividir uma mesa de fast food, na lanchonete da esquina.
Celular virou pop star na sala, na cozinha, no banheiro e nos quartos. Muito mais interessante que a própria TV – a mais antiga rival dos papos em família.
Será que o problema está no “maldito” aparelho ou na forma como nos comunicamos quando acaba a bateria?
Se preferimos as milhares de postagens com frases clichês e imagens bonitinhas deve ser porque elas nos falam justamente sobre nossas crises e carências, confirmando nossa dor solitária, embora coletiva. Rubem Alves já dizia que “cada época fala sobre aquilo que lhe falta”. É isso.
Seja nos papos intermitentes de cotidiano ou quando decidimos por uma D.R. (discutir a relação, como se fala na “gíria” atual) o que geralmente se vê são jogos emocionais que acontecem através de modos diferenciados e criativos. Os diálogos (quando existem diálogos) não servem para comunicar algo sobre os sentimentos, percepções ou considerações outras, mas para manutenção das defesas e posições. Por vezes, desejamos muito mais atacar, manipular ou nos defender, que informar.
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Fazer fofocas, rotineiramente, pode indicar uma busca de alivio de consciência. Quando falamos mal dos outros queremos dizer que somos melhores que eles, quando não desejamos encobrir o que temos de igual ou pior que estes tais a quem nos referimos.
Choros e muxoxos durante a comunicação sugerem uma regressão à infância com clara tentativa de manipulação, pois quando crianças nos acostumamos a usar destes recursos para convencer os adultos a realizarem nossas vontades infantis.
Silêncios na fala com expressões de desagrado na face [tão comum entre casais] é um tipo de ‘comunicação manca’, que chega muito mais para testar se a bola de cristal do outro é eficiente do que realmente informar algo relevante. O “comunicante” está mais preocupado em imputar uma culpa ao outro por sua incapacidade premonitória, que ajeitar uma situação de forma adulta.
Gritos coléricos são o resultado de emoções ligadas ao medo e à posse.
Dizem por aí que os gritos só chegam quando já perdemos os argumentos. No fundo, parece ser muito mais um ato de desespero que de comunicação.
Ironias descabidas servem para tentar informar que aquele que está ironizando é bem mais inteligente, esperto ou bondoso que o receptor da mensagem, quando na verdade, traz em sua estrutura básica, toques de sadismo. Quem quer dizer que a postura do outro não está sendo adequada pode e deve falar com empatia, sem provocações, pois os resultados das ironias são tão deficientes quanto os outros acima expostos.
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Comunicação que comunica é aquela que usa de coerência, assertividade, calma e didática. Não fala mais que o necessário [e o suportável], não grita nem fere, mas informa e inclina, com o poder da paciência.
Sai de uma boca para outros ouvidos com a clara intenção de buscar mais soluções que culpados; mais equilíbrio que desarmonia; mais compromisso que ruptura. Tem a empatia na base de seus argumentos.
Aliás, um ponto central na teoria da Comunicação Não-Violenta, proposta pelo Psicólogo Marshall Rosenberg, em seu livro de mesmo título, é de que precisamos resgatar o que há de mais genuíno no outro: suas emoções, sua força criativa, seu lado humano e bom, através de uma empatia real, nascida não na forma como nos comunicamos (aqui já falamos do efeito), mas de nossa intenção sagrada de ajudar. A comunicação, por conseqüência, será eficiente e positiva, porque pautada na força irresistível da compaixão. [proposta de Rosenberg – link aqui – https://pt.wikipedia.org/wiki/Marshall_Rosenberg]
No prefácio da obra citada, Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do Instituto Gandhi pela Não-Violência, explica que A não-violência significa permitirmos que venha à tona aquilo que existe de positivo em nós e que sejamos dominados pelo amor, respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preocupação com os outros em vez de sermos pelas atitudes egocêntricas, egoístas, gananciosas, odientas, preconceituosas, suspeitosas e agressivas que costumam dominar nosso pensamento.” Resumidamente é, entre outras coisas, nos comunicarmos usando o que há de melhor em nós, deixando de lado defesas, medos, angústias ou outros problemas do nosso ego engessado.
Dentro deste contexto até aqui comentado, e devido à importância e urgência do assunto, nós, da Universidade Livre Pampédia tratamos de trabalhar também com a teoria da Comunicação não-violenta, tornando-a um dos nossos eixos temáticos, por entendermos que muitas pessoas passam uma vida inteira se comunicando de maneira equivocada ou até mesmo violenta, sem que se darem conta disso, transformando o mundo interno e externo em um verdadeiro campo de guerra.
E isso se amplia no campo social, no macro, logicamente.
Por fim, considero que “comunicar comunicando” [e solucionando] é, por fim, uma arte. Aquele tipo de arte que se aprende [e que precisamos exercitar ao longo da vida!] com boa dose de compaixão, usando o pincel do bom senso e as tintas do bom humor.
E tenho dito!
Claudia Gelernter

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