quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os perigos do internetês

por Claudia Gelernter - claudiagelernter@uol.com.br

"Quem usa internetês jamais terá capacidade para construir um discurso complexo."
Alê Carvalho, membro de uma comunidade do Orkut.

Oieee!Kiria fala q vc eh legau soh ki to chatiadu neh... pq vc naum xego na hr q eu t flei?!
Peço que não estranhe a frase inicial deste meu novo artigo.
Sim, eu ainda uso o corretor do Word, além de me esforçar por usar algumas regras básicas da língua portuguesa.
E não, eu não sou adepta de rotulações e críticas com relação a quem não faz uso das chamadas normas cultas do português.
Acontece que precisamos analisar o quanto está sendo positivo para as pessoas a utilização cada vez mais abrangente do “internetês”.
Tente copiar e colar a primeira frase em um novo documento de seu computador e analise quantos sublinhados em vermelho irão aparecer.
Ótimo! Seu computador acaba de lhe avisar que é bem provável que as pessoas que estarão lendo esta frase não conseguirão compreender tais palavras.
Não é à toa que existem normas e regras.
Elas estão aí para que TODOS possam se beneficiar no entendimento mútuo.
São as bases da comunicação bem sucedida.
Devemos levar em conta que ao estudarmos comunicação e expressão na atualidade, aprendemos que devemos respeitar o tipo de cultura e a região onde estão inseridos os falantes e escritores.
Sem dúvida!
Bem por este motivo declaro que este artigo não tem a mínima intenção de afirmar que "nós" escrevemos certo, e eles, "errado".
Aliás, aqui o único objetivo é de se refletir quanto ao uso do internetês além dos papos informais, e tão somente isso.
Compreendo que aquele que não teve condições de aprender língua portuguesa na escola fará uso do que lhe passaram durante a sua vida.
Ouvir algumas pessoas dizendo ou mesmo escrevendo o “nóis foi” ou o “nóis fica” não deve nos desagradar em absolutamente nada.
Da mesma maneira, os que residem em diferentes regiões deste imenso Brasil aprendem conforme a sua cultura regional.
Nada mais natural que se expressem com palavras que só são utilizadas em determinadas localidades. Não há erro nisso.
Entretanto, os jovens da atualidade que fazem uso de uma linguagem muito diferente do que aprendem comumente nas escolas (muitas, particulares) estão – como diria um crítico de uma comunidade do orkut, “assassinando o português a tecladas”.
Porém, não será o português quem virá se defender de tal crime.
Esses mesmos jovens poderão apresentar dificuldades em algumas circunstâncias e por si só poderão avaliar os benefícios e prejuízos causados por tal costume.
Respondendo a uma entrevista realizada pela revista Época, uma estudante universitária disse: “Gostaria de citar a época em que eu abreviava "que" por "q" na Internet; só fui mudar a minha postura em relação ao problema a partir do momento em que me dei conta de que os textos que eu escrevia para o jornal, eventualmente, continham "q" no lugar de "que".
Mas não é aí que está o maior problema.
O que dizer dos que levantam a bandeira de que é preciso impor o recurso dos torpedos dos celulares - eficientes como recados rápidos - como língua única capaz de atender a todos os altos objetivos de um sistema complexo como é o da língua portuguesa? Complicado!
Os professores também têm sentido dificuldades em sala de aula, por conta desse fenômeno: “Não há condições de tolerar o desrespeito ao idioma, principalmente dentro da sala de aula. Uma coisa é usar gírias e internetês na informalidade e com amigos. Outra é levar esses vícios para toda a comunicação...", argumenta Elenice Rodrigues Lorenz, professora de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual.
Ela diz ainda que o problema está na carência do domínio da língua materna. "As pessoas não lêem, não procuram ampliar seu vocabulário, erram na regência e na concordância das frases e das palavras; têm dificuldade de conectar idéias e de interpretar textos".
Para Elenice, portanto, a preocupação é "adotar" o internetês como único recurso escrito alternativo, exatamente por ser simplificado e pobre de regras gramaticais e lingüísticas.
E quando entre os próprios jovens surge uma crítica direcionada? Dionísio da Silva, escritor do observatório da imprensa, comenta sua satisfação ao conhecer um site criado por jovens inconformados com o internetês, o “Eu sei escrever”: http://euseiescrever.blogspot.com/criadores
Diz ele que “Era preciso avisar os internautas, principalmente os mais jovens, que o internetês tinha atravessado a perigosa linha vermelha que tudo desordena e vira de ponta-cabeça sobre o que se quer: em vez de clareza, confusão; em vez de comunicação, a selva escura em que tantos já se perderam sob o disfarce da contestação por ela mesma”.
Meditemos...

Um comentário:

Carla Lima disse...

Sabe Cláudia,


eu estou totalmente de acordo com a reflexão que o texto nos trás.Quantos jovens desses não sentirão dificuldades sérias em corresponder as espectativas que o mercado acadêmico e profissional exige hoje dos seus candidatos?

Acredito que em qualquer circunstância essa chamada de atenção se aplique,seja em ambientes acadêmicos,no trabalho,nas atividades da instituição religiosa que frequentemos,ou até mesmo em algum bate-papo informal,ser claramente compreendido gera um outro impacto sobre o outro e reflete claro,que positivamente nas relações.

Bom texto..excelente reflexão!Um abraço.