terça-feira, 16 de outubro de 2012

Inveja: Muitos sentem. Ninguém admite.

por Claudia Gelernter

"O ciúme traduz o sentimento de propriedade, ao passo que a inveja mostra o instinto de roubo." Autor desconhecido

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Conta uma antiga lenda que, numa linda manhã de primavera, uma fada encantada visitou um rapaz de uma pequena comunidade oferecendo ao felizardo um único desejo. Poderia pedir qualquer coisa e ela o atenderia. Entretanto deveria estar ciente de que o que escolhesse para si, o seu vizinho, que residia na casa mais próxima à sua, receberia em dobro.

Ou seja: se desejasse riqueza, aquele que morava ao lado estaria duplamente rico. Se quisesse muita saúde, provavelmente o outro viveria o dobro de tempo. E por aí vai.

Para espanto da bondosa fada, o rapaz nem precisou pensar muito: pediu à doce senhora que lhe arrancasse um dos olhos. Com isso, o desafortunado vizinho ficaria completamente cego. “Ótimo, pois em terra de cegos, quem tem um olho é rei!” - analisou o malvado.

Tal estória ilustra com maestria o modo de agir do invejoso: para ele não importa sequer o quanto sairá perdendo com seu sentimento, com suas investidas, desde que o objeto de sua cobiça saia profundamente prejudicado. No advento da inveja, o outro possui algo que é preciso lhe seja tirado. “Por que não tenho se ele tem?” – tal pergunta ronda sua mente com muita freqüência. É como um fantasma que não se afasta do assombrado, atormentando-o dia e noite.

Muitas pessoas prejudicam-se largamente por agirem assim.
Aliás, nem poderia ser diferente, pois mesmo que diante da justiça humana nada lhes aconteça, invariavelmente, dentro das Leis Universais, estarão contraindo dívidas que deverão ser sanadas um dia.
Isto porque todos nós estamos sujeitos à lei de causa e efeito, sendo que a dor - divina pedagoga - certamente fará morada em nossas almas quando nos desviarmos do caminho correto.
Vale citar que, no caso do invejoso, o sofrimento é praticamente imediato.
Torna-se insuportável para ele a felicidade do outro, mesmo que este outro, na verdade, nem seja assim tão feliz...
Como diz o velho ditado, o feitiço vai virando contra o feiticeiro...

Existe um mito grego-romano em que um personagem chamado Erisy-chton destrói um carvalho sagrado da deusa Ceres, desrespeitando-a.
Seu prazer estava em retirar da deusa aquilo que ela amava. Ceres então o amaldiçoa, condenando-o a uma fome insaciável. Passou a comer tudo o que lhe aparecia pela frente, vendeu até mesmo a própria filha para comprar alimentos.
Mas nada era suficiente e acabou por devorar a si próprio.
Triste final, não é mesmo?
É o que acontece com todos aqueles que se envolvem nas teias de tal sentimento.
Na ânsia de destruir o outro, acabam definhando por conta própria.

Outro aspecto curioso do invejoso é que ele sequer admite sentir inveja. Em pesquisa realizada no Estado de São Paulo, das 80 pessoas entrevistadas, 80 disseram não sentir inveja de ninguém. Incrível! Já dizia o autor do livro “Mal secreto – inveja”, o consagrado jornalista e professor universitário Zuenir Ventura, que:
"O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde."
Realmente. Ninguém admite ser invejoso, mesmo que já tenha criado úlceras pépticas de tanto pensar numa maneira de tirar o que deseja de seu desavisado oponente.
Isso porque, curiosamente, até o invejoso acha monstruoso sentir inveja.
Entretanto, se consegue esconder dos outros, não o pode fazer com relação à própria consciência que um dia despertará, dolorida.

Já o ciumento, diferentemente do invejoso, não deseja tirar algo do outro, mas pensa que o outro lhe pertence.
Vive uma vida febril, doente, desesperada.
Não consegue ter paz nem por um instante, imaginando com quem o outro estará conversando, o que estará fazendo, se lhe prefere aos demais, etc. Não apenas sua vida é doentia como arrasta o seu eleito ao desespero, perseguindo-o abertamente, cobrando satisfações, atacando-o, impiedosamente. O primeiro deseja algo que não lhe pertence. O outro quer algo que ‘acha’ que é seu.

Importante dizer que, independentemente do sentimento que carregamos em nós, o mais importante é que seja detectado, compreendido, para, depois (e se acharmos necessário) ser modificado.

Se nos prendemos demasiadamente no que o outro possui ou faz, cabe a reflexão: porque sinto assim? Isso é bom para mim?

Se, por outro lado, nos vemos na mira de invejosos, recordemos do que nos ensinou Jesus. Pediu-nos que amássemos os inimigos, orando por eles, desejando o bem em retorno ao mal.

Não se trata de trazermos para nossa casa os que nos odeiam, não é isso.

Porém, não fomentar vingança.
Como nos ensinou Emmanuel: Abençoar e passar.

Não há mal que resista.

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