Que o mundo precisa de paz, não resta dúvida.
Que necessitamos de modelos a serem seguidos, idem.
Entretanto, quando o tema é pacifismo, novamente
nos damos conta de que nossa cultura nada mais é que um apanhado de
curiosidades que nos causam profundo estranhamento.
Um exemplo: premiamos pessoas por suas ações de
paz, entregando a elas um título que leva o nome de um cientista que inventou a
dinamite – elemento largamente utilizado para o extermínio de vidas. Sim,
sabemos que este mesmo material pode [e deveria] ser destinado apenas ao
progresso humano, na construção de estradas e de vias férreas, e certamente era
esta a intenção de Alfred Nobel; entretanto, não é a realidade, infelizmente.
Daí trago uma pequena sugestão: Que tal alterarmos o título Prêmio Nobel da Paz
para o Prêmio Gandhi da Paz? Seria mais coerente.
Sabemos que o próprio inventor sugeriu que o prêmio
fosse entregue "à pessoa
que tivesse feito a maior ou melhor ação pela fraternidade entre as nações,
pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de
tratados de paz".
Todos deveriamos atuar no
mundo a partir do paradigma da paz. Trata-se de questão de bom senso e valor
indispensável.
Foi por esta linha de
pensamento que questionei, por exemplo, a premiação de Chico Xavier, no Brasil.
Não é segredo para ninguém que busco seguir as lições deixadas pelo querido
Médium brasileiro, por quem nutro imensa ternura e respeito, porém, ver uma
‘competição’ entre Irmã Dulce e Francisco Cândido Xavier, me pareceu mais um
contrasenso. Como definir o melhor? Para que destacar os que verdadeiramente
são avessos ao destaque? Claro que este tipo de premiação serve muito mais a
nós, humanos carentes de Bem no mundo, que para eles. Nós é que precisamos de
referenciais, uma vez que nos faltam bússulas internas.
Em segundo lugar, o dito
prêmio leva ao eleito o valor de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,4 milhões,
aproximadamente), o que proporciona ao felizardo a possibilidade de expandira
ação pacífica pelo mundo.
Mas nem sempre é assim.
Surge então, a terceira
curiosidade, que me faz pensar sobre o auge do paradoxo nesta premiação.
No ano de 2009, os noruegueses
elegeram Barack Obama ao Nobel, por conta de seus esforços pela paz e redução
de armamentos. Entretanto, é o próprio New York Times quem denuncia que a era
Obama, em verdade, tem sido tão belicista quanto a fase Bush. A matéria publicada no dia 29 de maio de 2012
denunciou que é ele quem autoriza, pessoalmente, todos os bombardeios no
Paquistão, Iêmen, Somália e Afeganistão, explicando que todos os ataques, que
são supostamente contra líderes da Al Qaeda e do Talibã, têm consolidado essa
nova onda de bombardeios através de aviões não tripulados, conhecidos como Drones. O uso dos
aviões sem piloto, substituiu progressivamente, os bombardeamentos da força
aérea tradicional, sendo que o presidente dos EUA elogiou, repetidamente,
durante a campanha, o recurso a essa nova modalidade criminosa de guerra. Mas esses
tais “ataques cirúrgicos” em aldeias do Paquistão, mata milhares de camponeses,
como reconhece o próprio jornal americano, numa velada denuncia de que Obama,
em verdade, consegue “disfarçar” melhor seus atos de guerra que o presidente
anterior.
Mas não ficamos por aí, pois, após esta premiação ao presidente, a
academia decidiu eleger , no ano corrente, a União Européia ao Nobel da Paz. Ou
seja, o berço das Duas Grandes Guerras Mundiais foi apontado como sendo modelo
de pacificação mundial. O continente que atuou como invasor de novas terras,
extraindo riquezas e criando escravaturas sem fim. Notória contradição.
Tempos atrás, em conversas descontraídas com o Médium Spartaco Ghilardi,
em seu apartamento, na cidade de São Paulo, ouvi dele que, por vezes, os
Espíritos Superiores nos tecem pequenos elogios não por serem pura realidade,
mas com a intenção de que nos tornemos aquilo que eles estão, caridosamente,
nos dizendo.
Prefiro pensar que o mesmo anda ocorrendo com o Nobel da Paz.
Vai ver os acadêmicos decidiram utilizar a homenagem milionária como
forma de incentivo. Porém, isso não exclui a realidade como ela se mostra.
Oxalá algum dia os verdadeiros homens e mulheres que trabalham pela Paz,
possam ser em numero tão extenso que premiá-los seria ação impossível [e
desnecessária, claro].
Enquanto isso não acontece, contento-me em saber que Jesus, o maior
modelo de Paz no Mundo, esclareceu que não devemos nos preocupar com os
reconhecimentos humanos, efêmeros e defeituosos, mas sim com o reconhecimento
do Pai Celestial, que, mais que ninguém, sabe dar a cada fenômeno, seu devido
valor.
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