sexta-feira, 23 de abril de 2010

Algumas formas de suicídio


Claudia Gelernter - claudiagelernter@uol.com.br


Questão 952: Comete suicídio o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas?

É um suicídio moral. Não percebeis que, nesse caso, o homem é duplamente culpado? Há nele então falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus.

O Livro dos Espíritos

Muito se tem escrito e falado sobre o tema suicídio, uma vez que este tipo de prática é bastante comum dentro de todas as culturas, em todo o nosso planeta.

Logicamente as dores morais, as dificuldades que as pessoas enfrentam e principalmente a ausência de uma religiosidade equilibrada, contribuem amplamente para que este tipo de atitude aconteça.

O tipo de suicídio mais conhecido é o que chamamos de suicídio consciente: a pessoa está viva, com saúde e dá cabo da própria existência. Lamentável!

Porém, existem outros dois tipos de suicídio, muito mais comuns, só que não tão perceptíveis quanto ao acima descrito.

Um deles é o suicídio inconsciente e neste caso nem passa pela cabeça da pessoa que poderá vir a perecer se continuar trilhando os mesmos caminhos.

Sabe-se, através da ciência, que cerca de 80% das doenças que acometem os seres humanos são geradas devido aos nossos pensamentos/sentimentos.

Isso explica porque mágoas represadas, ódios destrutivos acabam desaguando em câncer.

Outro exemplo bastante comum é o óbito gerado pela angústia.

Manoel, certo conhecido meu, funcionário de uma grande empresa da cidade de São Paulo, trabalhou durante 15 anos reclamando de seu patrão que era, segundo ele, “rude e imbecil”. Saía de casa todas as manhãs, contrariado. Sofria, inclusive, da famosa síndrome do fantástico – nos domingos à noite seu mau humor era tão forte que a família o evitava.

Exatamente quando completou 15 anos de “casa” os funcionários deixaram o escritório e foram ao velório de Manoel: partiu daqui devido a um AVC fulminante.

Estudando o caso daquele homem - aliás, tão comum nos dias de hoje - descobrimos que o fato de ele pensar constantemente o quanto aquela situação trazia angústia e sentir os efeitos em seu organismo, seu cérebro passou a compreender que não seria mais interessante continuar vivendo.

O pensamento que parte do Espírito encarnado e vai para uma área do cérebro chamada frontal (área da racionalidade) segue para ao sistema límbico (setor das emoções) e chega ao hipotálamo (espécie de regulador do organismo e produtor de muitos hormônios) que compreende a mensagem, mais ou menos desta forma: “Não vale mais à pena viver. Trabalhemos na direção do óbito!”. E Manoel morreu. Simples assim.

Assim como ele, muitas pessoas adoecem e morrem de forma antecipada.

Veja, caro leitor, que precisamos detectar nossos sentimentos, nossas tendências e se nos descobrirmos incapazes de sair deste ciclo, faz-se necessário, com certa urgência, buscarmos ajuda.

Existe ainda outro tipo de suicídio – batizei-o com o nome de suicídio semi-consciente.

Isso porque a pessoa já possui certos conhecimentos que lhe afirmam que se continuar com suas ações na mesma direção o óbito será o único provável resultado.

Hoje, pela manhã, no jornal a Folha de São Paulo, li uma matéria intrigante que ilustra bem este caso: ”Mulher obriga família a jejuar e morre de inanição”.

Claudia Simão da Silva, de 35 anos, acreditava que um anjo do Senhor desceria dos céus e retiraria sua família da situação difícil em que se encontrava, uma vez que não tinham dinheiro nem para pagar as contas de energia elétrica.

Mas para que isso ocorresse, precisaria jejuar até a sua vinda.

Pior é que obrigou suas duas sobrinhas de 9 e 11 anos, assim como sua irmã e sogra, a jejuarem junto.

Só depois de estar morta há quase 5 dias é que as meninas conseguiram fugir da casa e pedir ajuda.

Como também estão em estado grave de desnutrição, passarão pelo menos um mês hospitalizadas.

Claudia não precisava ser nenhuma expert em ciência para saber que se continuasse muito tempo sem comer, morreria.

Aliás, nascemos sabendo disso, uma vez que para sobreviver choramos constantemente para que nossa mãe nos traga comida.

É uma resposta de padrão de nossa espécie, é assim que sobrevivemos: precisamos comer. Mesmo assim arriscou, pois tinha uma fé cega.

Provavelmente existia, junto a esse quadro, alguma psicopatologia dando base à conduta da moça, mas vale citar que mesmo esta realidade só se dá mediante uma tendência do espírito dela.

Neste mesmo tipo de suicídio se enquadram os fumantes, os alcoolistas e os drogaditos.

São casos diferentes do de Manoel.

Uns têm plena consciência que irão partir daqui. Outros já ouviram comentários que se continuarem com esta conduta, perecerão.

Os inconscientes nem imaginam que tendem ao óbito.

Posso afirmar, através de meus estudos, que todo suicida, seja ele consciente, semi-consciente ou inconsciente, sempre perde o que queria ganhar.

Minhas convicções, baseadas no que aprendi dentro da Doutrina Espírita, alertam para uma existência além da matéria, o que implica em um despertar mais ou menos difícil, dependendo de como agimos em vida.

Portanto a decisão de sair daqui antes do tempo não é nada inteligente, trazendo-nos muitas dificuldades no além túmulo.

Logicamente quando chegarmos ao outro lado da vida, nossas cobranças virão na medida de nossa consciência do ato.

Mas imagine, caro leitor, qual não seria a nossa vergonha moral ao descobrirmos que viemos para cá com uma programação reencarnatória de 80 anos e retornamos à Pátria Espiritual em menos de 40?

Um vexame digno de muitos padecimentos, realmente.

Finalizo este artigo com uma frase de Camilo Castelo Branco, o eminente escritor português que resume, com maestria, o tema aqui abordado: “O suicídio é o maior dos crimes porque é o desprezo do divino remédio nas dores passageiras da vida”.

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