sexta-feira, 23 de abril de 2010

Resiliência e otimismo

Claudia Gelernter - claudiagelernter@uol.com.br
“A maior prova de coragem é suportar as derrotas sem perder o ânimo”.
Robert Ingersoll

Vamos supor que você acaba de ter uma idéia brilhante.
Percebeu que precisa alcançar um novo objetivo, alterar o quadro vigente, superar um antigo medo e seguir adiante em um novo empreendimento.
Então decide comentar com seu melhor amigo sobre este insight.
E ele, demonstrando todo o interesse do mundo em suas palavras, responde imediatamente, jogando um balde de água fria em seu rosto:
- Nem tente! já soube de muita gente que foi por este caminho e quebrou a cara. Aliás, não se mexe em time que está ganhando...
- Mas, pelas minhas contas, meu time está no máximo empatando.
- Melhor isso que nada. Ao menos você anda pagando as contas em dia e a família está contigo...

Qual seria sua reação diante da explícita rejeição nas palavras de seu amigo?
Desistiria, imediatamente, confabulando consigo mesmo que realmente tal projeto nem era tão bom assim e que, portanto, deve desistir dele, ou faria uma reflexão maior, encarando aquele comentário como um alerta, mas sem permitir que seja o peso maior diante de sua futura decisão, pois esta deve sempre levar em conta seu entendimento e sua fé no assunto?
Se você está no primeiro caso, te convido a repensar algumas possibilidades, pois seu medo e sua tendência ao pessimismo podem estar ocasionando quebra de potencial de realização ou até mesmo o congelamento total de suas possíveis decisões.
Na atualidade, cada vez mais psicólogos e empresários comentam sobre a necessidade de sermos resilientes e otimistas.
A resiliência - termo oriundo da física – representa a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.
Tal palavra, na área de humanas, siginifica a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar às mudanças, recuperando-se de um trauma - não apenas fisicamente, mas no estado psicológico - mantendo uma visão positiva na vida, garantindo a integridade geral, apesar das adversidades, do meio onde se vive e dos momentos críticos pelos quais precisou passar.
Pessoas resilientes conseguem superar os problemas sem sofrer as conseqüências negativas do estresse, como doenças físicas e emocionais.
Possuem poder de decisão e encaram os problemas como desafios a serem vencidos.
Quando confrontados com um problema do tamanho de um “Golias”, pensam como David: “Grande demais para errar!”, diferentemente dos pessimistas que o encaram como sendo “grande demais para acertar”...

Conseguem manter um olhar positivo, otimista diante da vida, retirando dela as lições importantes, sem colocar sobre os ombros todo o peso dos problemas que vivenciam.
Porém, não se pode confundir otimismo com perda de senso da realidade.
Por exemplo, não seria interessante dirigir em alta velocidade, numa noite chuvosa e de pouca visibilidade só porque somos otimistas...

Outro ponto importante que deve ser ressaltado é de que resiliência não significa ausência de sofrimento. A diferença é a forma de vivenciá-lo.
"Pessoas resilientes têm grande capacidade de adaptação", aponta a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da filial brasileira da International Stress Management Association, entidade voltada para a prevenção e o tratamento do estresse. "Elas sofrem, mas reúnem forças e se reposicionam", acrescenta a psicóloga Carmem Rittner, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Muitos possuem uma difícil história, com experiências desastrosas, acúmulos de críticas vindas das pessoas próximas, pouco poder de decisão sobre a própria vida, etc., o que lhes serve como uma espécie de “trava” interna, potencializando sentimentos difíceis, mantenedores de certa estagnação existencial.
Diante de qualquer conflito mais intenso deixam-se abater, desistindo de seus anseios, abrindo mão das mais variadas oportunidades de mudança.
Deve-se ter em mente que tais pessoas, sozinhas, dificilmente lograrão algum êxito diante deste fenômeno.
Conseguir encarar as intempéries do dia-a-dia sem apoio exterior é, para elas, tarefa impossível.
Nestes casos a busca por auxílio terapêutico costuma dar bons resultados – sem se perder de vista que o componente interior, ou seja, a boa vontade, o esforço da pessoa para se melhorar é ingrediente indispensável no processo.

O famoso samba de Paulo Vanzolini, no refrão: “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima” nos pede exatamente isso: resiliência e otimismo – ingredientes básicos para quem deseja da vida muito mais do que apenas existir.

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